Por: Jhonatan Mitsuo
Analistas e pesquisadores apontam que o Brasil pode enfrentar um recuo da economia, em patamar que lembra a crise financeira de 2008 e a greve dos caminhoneiros em 2018.
Segundo o banco UBS, estima-se que a taxa de desemprego, medida pela Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios Contínua Mensal, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deve encerrar o ano em 12,5%, nos dados dessazonalizados. Em janeiro, a desocupação ficou em 11,2%, com 11,9 milhões desempregados.
Segundo estudo da Fundação Getulio Vargas, o PIB brasileiro pode recuar 4,4% em 2020. Para o banco Itaú, se a economia brasileira sofrer uma paralisação tal qual ocorreu na China durante as quarentenas impostas, o PIB pode cair 0,7% neste ano. As expectativas econômicas têm desabado ao redor do mundo.
No início deste mês, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) previu que a pandemia poderia custar à economia global até US$ 2 trilhões neste ano (cerca de R$ 10 trilhões).
Países que dependem da venda de matérias-primas, como o Brasil, estão em uma situação delicada, alertou a UNCTAD.
A China é o principal destino das exportações brasileiras (29%), assim desaceleração na economia chinesa afeta o Brasil, além de que a China é importante comprador de matéria prima brasileira, como minério de ferro, soja e carnes. Nesse sentido, a China tem papel relevante de fornecedor para a indústria brasileira, especialmente de produtos eletroeletrônicos, sendo que as exportações chinesas nesse segmento respondem por mais de 10% da produção global, de acordo com a consultoria britânica Oxford Economics. Na pratica, além dos bens finais exportados pelo país, a China também vende chips, circuitos integrados e outras partes e peças que vão se tornar, celulares, televisores e diversos outros eletrônicos. Assim, a consultoria ressalta que paralelo a uma queda na demanda chinesa, por bens importados de outros países e uma retração acentuada em sua atividade industrial, pode causar um rompimento das cadeias de fornecimento em outras regiões. E uma dessas áreas é o Brasil.
Ao contrário da pauta de exportação brasileira para China, concentrada em poucos produtos básicos, a de importação é bastante pulverizada e com alto valor agregado. São circuitos, parte de aparelhos transmissores ou receptores, motores, geradores e transformadores elétricos, semicondutores, máquinas e peças que abastecem a indústria nacional. Segundo a Eletros, que representa algumas das maiores empresas do setor eletroeletrônico do Brasil, a China é um fornecedor importante de componentes para fabricantes de produtos da linha branca, da linha marrom e de eletroportáteis. Estamos falando de fogões, geladeiras, máquinas de lavar, equipamentos de áudio e vídeo, secadores de cabelo, sanduicheiras, ventiladores. A entidade considera preocupante a instabilidade na cadeia logística de importação de insumos produzidos na China, ou seja, a possibilidade de desabastecimento, especialmente dos componentes de maior valor agregado. Nesse caso, de acordo com a Eletros, o estoque que o Brasil tem é suficiente para abastecer o setor entorno de 10 a 15 dias.
À medida que a tecnologia foi evoluindo, os componentes eletrônicos foram diminuindo de tamanho e a indústria chinesa conseguiu ganhar escala, a indústria brasileira pôde importar relativamente mais barato e com entrega mais rápida. Atualmente, os pedidos de componentes são muitas vezes feitos sob demanda, dependendo do que o fabricante precisa entregar para os clientes.
Na China, em regiões que não estão em quarentena, eventuais suspeitas de contaminação têm levado a fechamento total de algumas indústrias até que se descarte um novo caso. Nesse contexto, há desequilíbrio entre oferta e demanda que afeta os preços, ou seja, a possiblidade de elevação dos preços de produtos chineses é possível. No caso específico do Brasil, as empresas do setor já estão com as margens de rentabilidade apertadas por conta da recessão e, com o aumento do dólar, já enfrentavam aumento de custos de insumos importados. Do lado da exportação do Brasil para o mundo, o principal impacto econômico de curto prazo do coronavírus tem sido nos preços de commodities. As cotações da soja, do petróleo e do minério de ferro vêm acumulando queda desde que os primeiros casos da doença foram confirmados, diante do temor de uma desaceleração da economia chinesa. Ou seja, mesmo que a demanda não caia, estamos vendendo mais barato por conta da forte expectativa de que as compras sejam reduzidas pela desaceleração chinesa. A soja representa cerca de 30% de tudo que o Brasil exporta para China, seguida de petróleo e minério de ferro. Em termos de volume, parte dos setores exportadores não espera variação significativa no curto prazo.
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